quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Uma coisa puxa a outra

As quatro regiões metropolitanas com maior proporção de favelas e cortiços ficam no Norte e no Nordeste: Belém (PA), Salvador (BA), São Luís (MA) e Recife (PE).

A quinta colocada é... a Baixada Santista, onde praticamente um em cada cinco moradores vive no que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, autor do estudo, baseado no Censo 2010) chama de 'submoradias'.

Quando se veem as três primeiras regiões em percentual de habitações inadequadas, pode-se lembrar de seus expoentes políticos: Jader Barbalho, Antônio Carlos Magalhães, José Sarney. Políticos considerados da pior espécie.

E quem governou São Paulo desde o fim da ditadura? Além de Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho, excluídos de uma questionável galeria de exemplos honrosos, passaram Franco Montoro, Mario Covas, Geraldo Alckmin, José Serra.

Hoje, 17,9% da população da Baixada não tem moradia decente. E essas 297 mil pessoas não incluem moradores de Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe, que ficaram de fora do estudo do IBGE por não ter favelas com pelo menos 51 barracos cada uma. Há submoradias ali, mas não entraram no cálculo.

Portanto, significa que Bertioga, a mais nova cidade da região, tem 'grandes' núcleos irregulares. O antigo distrito de Santos foi transformado em município há 20 anos, após décadas de protesto popular (e de alguns aspirantes à política) contra o abandono por parte da Administração santista.

E a campeã em desgraça habitacional? Cubatão tem um polo industrial gigantesco. O orçamento da Prefeitura para 2012 só perderá para o de Santos: R$ 1,2 bilhão. Mas é a cidade local em que mais se concentram favelados: 41,52% da população está em encostas de morros e sobre áreas de mangue.

O levantamento do IBGE apareceu exatamente no dia seguinte à divulgação do 'Painel de Qualidade Ambiental 2011', pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Nele, a Baixada aparece como uma região com tratamento de esgoto péssimo, de situação ruim para a fauna aquática e onde a vegetação nativa diminuiu 11,5 pontos percentuais em apenas cinco anos.

É fácil perceber que uma coisa puxa a outra.

3 comentários:

Flávio Leal disse...

Falamos do que os cientistas políticos gostam de chamar de "demanda-reprimida". Aqueles que apenas vegetam à margem da sociedade organizada até o dia em que passam a ser alvo de algum tipo de cobiça. E deixam de ser demanda-reprimida, conforme os teóricos, somente em uma das duas situações seguintes: alvo de propaganda para fins eleitorais ou o surgimento no seio da sua miséria de algum interesse econômico.
No caso dos bairros-cota, em Cubatão, essa dupla de interesse se mostrou inteira. Parte com a pretensão presidencial de José Serra. Vamos tirar essas pessoas de áreas de risco e, de quebra, ou principalmente, para fins de propaganda, do meio do parque estadual da Serra do Mar, vamos preservar o verde (verdismo.
Todos conhecem esses locais, às margens do movimentado Anchieta-Imigrantes, sejam moradores daqui ou da capital em seus deslocamentos para a região. Ótimos outdoors.
Por fim, o interesse econômico, guardado no início (até o fim da eleição) a sete chaves. Trata-se do sistema de dutos para exportar álcool pelo porto de Santos, que cortaria essas áreas.
Não fossem o interesse econômico e a eleição, os núcleos continuariam sem nenhum projeto até hoje, como ficaram por mais de 40 anos.
É preciso ter a sorte, quando se mora em área informal, de estar no meio do caminho, como uma pedra a atrapalhar pretensões nem sempre confessáveis.
Do contrário, a vida continua como "demanda-reprimida".

Nando disse...

Exemplos honrosos. Esta é a questão. Quem os torna honrosos e, assim, eleitoralmente viáveis?

Rafael Motta disse...

Flávio, Nando, que bom "ver" vocês por aqui. Ótimo Natal. Abraços.